Alma: conceito bíblico
O ser humano foi formado de dois elementos básicos: "pó da terra" (matéria prima utilizada para estruturar o corpo) e "fôlego de vida" (vitalidade proveniente de Deus que retirou o corpo de seu estado inanimado). Assim, "alma vivente" é o resultado da associação entre "pó da terra" e "fôlego de vida". Outras referências bíblicas reforçam este princípio:
Biblicamente, "alma" não é algo invisível que habita o interior do homem e retira-se quando ele morre. "Alma" refere-se ao próprio indivíduo. Ao ser criado, o homem passou a "ser alma vivente", ele "foi feito alma vivente" (Gênesis 2:7; I Coríntios 15:45), e não a ter uma "alma" vivendo dentro de si. Deus não formou nenhuma entidade sobrenatural destinada a viver no corpo do homem, em parte alguma das Escrituras isso é demonstrado.
Acrescenta-se ainda o fato de que o ser humano não é o único a ser caracterizado como "alma vivente" ("pó da terra" + "fôlego de vida"), outras espécies de seres vivos são classificadas da mesma forma. A expressão "alma vivente" (ou "ser vivente"), originada do hebraico "nephesh chay"(a) (no Velho Testamento) e do grego "psuche zao"(b) (no Novo Testamento), refere-se a cada "criatura ativa", única e indivisível:
Os termos "nephesh" e "psuche" (de onde se traduz a palavra "alma") são utilizados com vários significados na Bíblia, e nenhum deles apresenta a ideia de uma entidade extra corpórea (algo sobre-humano) convivendo temporariamente em algum corpo. Adiante alguns exemplos:
As palavras nephesh e psuche designando "vida":
As palavras nephesh e psuche indicando "indivíduos", "pessoas":
As palavras nephesh e psuche referindo-se ao "coração" (sentimento; âmago de algo):
As palavras nephesh e psuche usadas como "pronome pessoal" e "pronome possessivo":
A palavra nephesh expressando "apetite", "vontade":
A palavra nephesh significando "cadáver":
A palavra psuche manifestando "expectativa", "ansiedade":
A palavra psuche referindo-se a "mente", "raciocínio":
Pela compreensão bíblica exposta nos exemplos acima, nota-se a inexistência de uma "alma" convivendo no homem; nenhuma referência escriturística transmite o ensino de que o ser humano seja composto por um "corpo" e uma "alma" independente e racional. Ao contrário, o relato bíblico da criação, a etimologia e a análise contextual de nephesh e psuche, demonstram que o homem é uma criatura indivisível resultante da associação entre "pó da terra" e "fôlego de vida"; que ele foi feito "alma vivente". Tanto nephesh e psuche, quanto as suas fontes de origem (naphash, psucho), possuem como significado principal o ato de "respirar". Teria a imaginária "alma" da crença pagã esta necessidade?
Alma: conceito pagão
O ensino de que cada ser humano contém uma "alma" autônoma habitando o corpo provisoriamente não é bíblica, mas surgiu com os antigos povos pagãos, e ganhou notoriedade com a filosofia grega, que se baseou nos conceitos egípcios.1
![]() Os egípcios acreditavam que a "alma" era composta por uma força vital chamada "ka"(c) que permanecia próxima ao corpo após a morte, e por uma parte espiritual chamada "ba"(d) de livre locomoção. A antiga civilização chinesa, outro exemplo entre os povos da antiguidade, desenvolveu a ideia de que a "alma" era composta de uma parte inferior que desaparecia com a morte do corpo e outra superior que mantinha-se atuante, sendo esta última a responsável pela racionalidade. Estas concepções pagãs tornaram-se posteriormente a base doutrinária de que, após a morte do ser humano, existiria uma "alma" que era encaminhada para o Céu ou para o Inferno.
O cristianismo apostatado absorveu as ideologias gregas sobre a "alma", sobretudo às de Pitágoras, Platão e Sócrates que defendiam-na como sendo algo incorpóreo (semelhante aos deuses), existindo antes do surgimento do corpo e permanecendo ativa depois de sua morte. Os primeiros filósofos cristãos adotaram este ensino com algumas adaptações, para eles a "alma" era uma entidade criada por Deus e transferida para o corpo no momento do nascimento. Entre esses filósofos tem-se Agostinho, que fortemente influenciado pelos ensinos de Platão, afirmava que a "alma" era a responsável pelas atitudes do corpo.2 Assim, estas ficções humanas substituíram o significado bíblico de "nephesh" e "psuche".
a. Nephesh, substantivo hebraico que significa: criatura; ser vivo; alma (pessoa; indivíduo). Nephesh, provém do verbo naphash, que significa respirar. Chay, adjetivo hebraico que significa: vivo; ativo.
b. Psuche, substantivo grego que significa: respiração (vitalidade, "fôlego de vida"); alma (criatura, ser vivo - equivalente ao hebraico nephesh). Psuche deriva do verbo psucho, que significa: respirar; soprar; esfriar pelo sopro. Em sentido figurado: tornar o coração frio, enfraquecer o amor. Exemplo: "E pelo crescimento da iniquidade, o amor de muitos esfriará [psucho]." (Mateus 24:12 BJ). Zao, verbo grego que significa: viver; estar ativo.
c, d. Para a mitologia egípcia, o "deus Khnum" originou o "ka", que era ilustrado por dois braços e duas mãos erguidas para o alto, e o "ba", retratado na forma de um pássaro com cabeça humana para expressar a mobilidade da alma após a morte.
1. STOCKER, C. W. (1831). The History of the Persian Wars from Herodotus, vol. II. London: A. J. Valpy, p. 73 (sec. 123); KENRICK, J. (1841). The Egypt of Herodotus: the second and part of the third books of his history, London: B. Fellowes, p. 161-162 (see too footnote, sec. 123); LARCHER, PIERRE-HENRI. (1844). Larcher's Notes on Herodotus: historical and critical comments on the history of Herodotus, vol. I, London: Whittaker & Co., p. 306-308.
2. "Soul". (2010). Encyclopædia Britannica, Chicago: Encyclopædia Britannica; DeVRIES, M. (1998). Augustine's Confessions: Shepherd's Notes, Nashville, TN: B&H Publishing Group, p. 2 (introduction); MANN, W. E. (2006). Augustine's Confessions: Critical Essays, Lanham, Maryland: Rowman & Littlefield Publishing Group, Inc., p. 182, 217.
Outros estudos:
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